quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

seu crispim







seu crispim.





nisto getúlio vargas, presidente do brasil, veio até caxambu para participar de uma cavalgada.
ah! era comum.
o sul de minas foi reduto dos políticos das décadas de 30, 40, 50.

principalmente do partido dos trabalhadores do brasil. deputados, senadores,
ministros e o presidente da república tinham por aqui a estima de um lar.
para esta cavalgada o sr. carlos penha ficou encarregado de encontrar o
melhor cavalo para servir o presidente.

ora, o berço do mangalarga marchador precisava oferecer ao getúlio o que de
melhor havia em seu criatório.
mas o melhor o carlos tinha se desfeito dele.
conto como foi. num tombo. ele caiu do cavalo e quem estava lá para ver? seu
crispim.

levanta num sus, sacode a poeira do traje de gala, porque para cavalo como
aquele só mesmo vestido com o melhor, e oferece ao crispim seu cavalo em
troca da égua, derreada pelo tempo e trabalho , que seu crispim, humilde,
usava para vendas e compras.

eu não posso seu carlos, quem sou eu? dizia seu crispim- não tenho dinheiro
para voltar neste cavalo!

não, homem de deus, veja se entende, a gente troca os arreios só. eu fico com
sua égua e você com meu cavalo. elas por elas.

bem... já que o sr. fala que é ansim, o sr. manda.

e a troca foi feita ali mesmo na estrada, na quentura do tombo.

então, o melhor cavalo estava com o crispim!

cisca daqui e dali e seu carlos convence o crispim a emprestar o cavalo para o
presidente.

a cavalgada foi um sucesso. no hotel , getúlio manda chamar o crispim.
chega o homem de botina velha, roupa de domingo e chapéu novo na cabeça.

quanto lhe devo por seus préstimos, pergunta o presidente que de questão lhe
cumprimenta.

nada não seu presidente. é uma honra ter servido ao senhor.

depois de muita insistência e demasiada recusa getúlio pede um papel de carta,

escreve a melhor das recomendação que um ser humano poderia receber ,
solicita aos presentes que firmem como testemunhs o escrito e presenteia ao
crispim.
o papel dizia que onde crispim o apresentasse seria empregado, em qualquer
parte do país , com um grande honorário para fazer o que lhe desse na veneta.

crispim agradeceu e foi pra casa levando o cavalo.

chegou zangado, ofendido. não aceitou dinheiro mas por ofensa de quem
respeitava e procurara agradar carregava àquele papel cheio de nomes no
bolso.

em casa desfez-se das roupas, da bota, e do papel. este mandou a mulher
queimar no fogão à lenha. e sentou no canto da porta ofendido e humilhado. se
era para dar alguma coisa que fosse de serventia, resmungava. até uma
carroça nova. não um papel cheio de nome que ele não conhecia.

dona joana ouviu o caio pena contar detalhadamente a história, sorrindo do
caso, com seus verbos corretos e as palavras no lugar.

era bem de tarde. o céu estava pedrento de nuvens escuras. hoje não tem lua,
pensou dona joana, então aquele tal não tem encontro com lobisomem.
e ficou em dúvida: será que vale lua cheia coberta por nuvens negras ou ela
precisa estar à vista, para trazer o lobisomem do mundo dos deus que me
livre?

joana, ledora de bulas

começou por causa de uma beringela. aí, dona joana foi ser ledora de bula. botou uma cadeira na porta da casa de dona gessy, onde morava de provisório, uma plaquinha: lê-se bulas. daí pra frente freguesia não faltava.

lia bula de remédios, receita de médico, decifrava sonhos, fazia horóscopo, aconselhava mulher corneada e que ainda por cima apanhava do marido.

a fama ganhou o rio de janeiro. da beringela e de joana e suas bulas. já vinha gente de lá para ouvir o que seus búzios diziam. até que ela teve um sonho.

e neste sonho caxambas explodia por causa de um vulcão que existia embaixo da cidade.
joana foi de porta em porta avisar sobre o perigo. mas adiantou? joana voltou para sua cadeirinha de ler bulas e entregou a sorte ao azar.

afinal, iniciara no quintal de dona gessy uma horta promissora de verduras e plantas que ajudam a tirar o mau olhado. com ou sem vulcão seria rica, que nem eles, os que mandam na terra.