quarta-feira, 25 de março de 2009

pois é, não é mesmo? VI


turmalinas





Enquanto isto Fernão Dias procurava as pedras nos rios, nas rochas, nas margens arenosas, ou cheias de lama e, impaciente, escavava as terras com os dedos, procurando os veios verdes das esmeraldas.

          As unhas apodreceram e caíram, os dedos gangrenavam e Fernão se arrastando pelo curso dos rios enlouquecia, supondo ver em cada pedra, esmeralda. Morreu desesperado. 

      A barba longa, os cabelos desgrenhados, mal alimentado, como numa fotografia. Na margem de um dos rios que conhecia de cor, de tanto percorrê-los a todos. Morreu de pura exaustão. E seus herdeiros foram recebendo as terras que dividiam entre si e entre a grande prole que cada um deles havia gerado.

          Até Antonio Ramon alugar um pedaço do pasto, que ficava no caminho dos tropeiros, para montar  um empório, a família só vivia da criação de gado , de porcos e de algum café que restou dos pés que morriam tomados por praga, depois que os escravos foram libertados e não havia quem cuidasse deles.

           Ramon recebia os tropeiros, alojava seus animais, dava-lhes comida, camas macias para dormir, vendia-lhes com o preço mais barato que havia, desde Campanha até Estrela,  todo o produto de que precisavam até chegar ao próximo empório, e ainda brindava o   capataz da tropa  com os  favores  de Maria, que deixava a adolescência com corpo de mulher adulta.

          A fama do empório do Rio da Glória cresceu rápida. Maria era cantada em prosa e verso pelo caminho dos tropeiros. Que avisassem com antecedência do próximo retorno para que Maria estivesse sempre disponível.

          Depois da abolição da escravatura as tropas começaram a diminuir de tamanho. Os animais vinham em igual quantidade, carregados de ouro e pedras preciosas, mas os homens que os conduziam, contando com o chefe, eram em três ou até dois. Os lucros do empório diminuíram. Eram menos bocas a alimentar. Menos suprimentos para vender.

           Antonio começou então a execução de um plano que acalentava há muitos anos. Os tropeiros apeavam de seus cavalos, matavam a sede e a fome e, enquanto o patrão da tropa se servia dos favores de Maria todos podiam beber à vontade, da boa pinga feita pelo dono do empório.

          Então foram mortos os primeiros. Quando estavam todos ferrados no sono da bebida, o português acertava uma única e eficiente paulada na cabeça deles.

          Havia um mangueiral para criação de porcos perto do Rio da Gloria, de modo que as fezes dos animais fossem direto para o rio, dando menos trabalho para  limpar os chiqueiros.

          O dono do empório, com um cutelo afiado cortava em pedaços os corpos dos que ia matando e os servia aos porcos, que devoravam as carnes e os ossos com voracidade, de modo a nada sobrar. 

Os cavalos da tropa, ele os prendia num curral e, mais tarde,  negociava alegando que podia vender barato porque barato os comprara dos tropeiros. Animais cansados, magros, estropiados, que ele recuperava e vendia para aumentar a fortuna. Com o melhor, o que na realidade pretendia, o ouro, as pedras preciosas, ele fazia embrulhos e os enterrava em torno da copa do pé de jatobá.

           Assim o tempo foi passando e Antonio Ramon enriquecendo.

            A coroa vendo que as tropas vindas com o quinto escasseavam, aumentou a cobrança do imposto e fez a derrama, enviando ouvidores-mór para acompanhar de perto o problema e encontrar soluções.

     Uma jovem culta, o que era impensado na época, pois as famílias preparavam suas filhas para as prendas do matrimônio, iniciou a se preocupar e comentar com os mais próximos o absurdo que era Portugal cobrar o quinto de cada família produtiva da terra. Ela era a Bárbara Heliodora, a Barbra Heliodora!


E era assim que Carlinhos Contava esta história. De uma talagada só. Do mesmo modo que a repito.

     A Corte Portuguesa desembarcou na cidade do Rio de Janeiro em março de 1808.

      Mas, diz Thalita Casadei ,que a Vila de Campanha da Princesa já sabia que isto iria acontecer desde fevereiro . E os maiores da vila, presto, enviaram documento à Rainha D. Maria I, à sua Real Família e cortesões em que dizia estarem prontos a “prostar-se aos pés de Vossa Alteza Real e render a sua profunda obediência e Vassalagem, oferecendo todos com muito gosto prontas as suas vidas e fortunas para tudo quanto for do Real Agrado e Serviço de Vossa Alteza Real. Vila da Campanha Princesa, 7 de fevereiro de 1808.”


          Anteriormente foi feita e aceita a doação da Terça parte das rendas da Vila para a Princesa Dona Carlota Joaquina. Foram enviados também animais os mais variados para transporte, trabalho e alimentação da Corte.

           E todas as tropas passavam pelo pouso da Quaresma , onde houve despesas com milho, algodão para embornais, farinha e arroz; pelo pouso dos Criminosos onde se gastou com milho, farinha e fumo para curar bicheiras. Seguiam esse caminho, chegando a terras paulistanas e daí rumavam para o Estado do Rio.

     Como conta Carlinhos eles passavam também pelo Pouso dos Penha onde os gastos,por causa de Maria, nunca foram anotados. Vamos ficar com a versão dele, que não é historiador, mas conhece em profundidade todas as histórias daqui.




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